A questão ambiental e a educação

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A questão ambiental hoje pode ser definida como o momento de crise entre o modelo de desenvolvimento adotado pela maior parte dos países e o entendimento da natureza como um recurso finito, portanto incompatível com este modelo.

No Brasil, um país de referência na área de educação ambiental, desde a década de 2000, tem-se refletido sobre as diversas formas de se compreender e praticar a educação ambiental. Dentre todas, é possível destacar dois movimentos gerais.

O primeiro, de tendência conservadora, consiste em um entendimento que produz e propaga conteúdos, em geral com recomendações e indicações. Esses movimentos entendem que a natureza é um recurso à disposição da humanidade, do qual é preciso dispor com sabedoria. As intervenções propostas por esses movimentos são individualistas, centradas no papel que cada ser humano pode desempenhar para a preservação do meio ambiente: a questão ambiental é responsabilidade de cada um e uma de nós.

O segundo movimento, de tendência progressista, adotado por diversas organizações nacionais e internacionais de referência, busca vincular a questão ambiental à sua estreita ligação com as questões socioeconômicas. Este movimento surge para se posicionar diante das incompletudes das interpretações conservadoras da natureza e da educação ambiental. Portanto, passa a questionar a interpretação da natureza como recurso e a própria divisão entre natureza (um espaço paradisíaco, produto de uma não interferência humana) e a sociedade (conjunto de práticas essencialmente humanas), defendendo que a natureza e a sociedade são processos interligados e, assim, interdependentes.

Este entendimento da integração natureza/sociedade leva ao deslocamento da questão ambiental de um nível individual (do "se cada um de nós fizer a sua parte podemos salvar o planeta”) para um nível social. Desta forma, costumamos dizer que, se todas as pessoas do mundo passassem a reduzir, reutilizar e reciclar, nem assim a questão do resíduo estaria resolvida.

A questão ambiental é um problema social, que deve ser enfrentado coletivamente por meio do fortalecimento de estruturas sociais e comunitárias que possam interferir de fato na vida pública a favor dos seus interesses. A educação ambiental, neste modelo, favorece a articulação entre as questões sociais e ambientais em uma abordagem crítica, de modo a formar cidadãos e cidadãs que sejam capazes de interferir no mundo onde vivem. Esta é a direção adotada pelo Instituto Estre.

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O Instituto Estre e a educação ambiental crítica e emancipatória

A importante pesquisa realizada pelo MEC sobre o panorama das escolas brasileiras que realizam educação ambiental, apontou que mais de 90% das unidades de ensino brasileiras tinham a educação ambiental em seus currículos há, pelo menos, 3 anos. Deste grupo, a maior parte dos projetos havia sido criada por professores com o foco principal em “conscientizar para a cidadania”. Do universo analisado, o MEC apontava para mais de 60% das escolas trabalhando a questão dos resíduos, juntamente ou não, com outros temas.

Contudo, a experiência do Instituto Estre mostrava, desde o início, a repetição de projetos enquadrados nos motes da reciclagem de resíduos, sem contudo integrar este tema em questões sociais mais amplas, tanto em relação à geração dos resíduos — portanto, o consumo — como em relação à sua disposição. Os projetos eram principalmente compostos de listas do que fazer ou não em relação ao lixo, perdendo a oportunidade de se aprofundar na questão dos resíduos e refletir sobre a conexão com outras dimensões da vida em sociedade.

Neste contexto, surgiram os programas do Instituto Estre, que contextualizam as questões ambientais das pequenas decisões cotidianas à arena das grandes decisões sociais e políticas. Este modelo inspira-se na educação popular de Paulo Freire, na busca pela formação de sujeitos sociais emancipados — donos de sua própria história e responsáveis pelos destinos de seu planeta — preparados para criarem e viverem espaços democráticos, que buscam compreender e intervir nas relações entre sociedade e natureza como sujeitos ecológicos.

Além dos projetos para as comunidades escolares, a abordagem educadora ambientalista do Instituto Estre entende que os espaços físicos onde se realizam as suas atividades, e as relações humanas que se estabelecem nestes espaços, também são geradoras de conteúdos e práticas potencialmente educadoras e transformadoras. Desde pequenas decisões, como questionar a necessidade de se fazer fila ou condicionar excessivamente a expressão corporal das crianças, até a flexibilidade para acolher diferentes demandas e agendas por parte de escolas e outros parceiros, são opções que refletem uma forma de pensar e viver a educação ambiental.

Internamente, o direcionamento estratégico do Instituto Estre é pautado por uma construção coletiva das decisões e procedimentos sobre o uso do espaço, dos acordos de convivência, da definição do plano de trabalho de educadores ambientais, da definição dos conteúdos e de como eles serão trabalhados junto com a comunidade escolar. Com isso, busca-se o exercício do encontro e negociação democrática de diferentes perspectivas, de forma que todos que vivem o instituto — sejam educadores, funcionários, visitantes, alunos, professores — percebam e vivam um espaço aberto, acolhedor e não autoritário, uma dimensão importante da educação ambiental crítica e emancipatória.

Opa... Estes temas são realmente densos, por isso mesmo o Instituto Estre traz a ludicidade para todas as suas ações. Acreditamos que a aprendizagem pode ser sim um ato coletivo, criativo e sobretudo divertido! Distanciando-se da seriedade, buscamos com alegria nos sentir potentes e agentes de transformação. E que as pessoas se sintam do mesmo modo quando se encontram conosco.

Para ter acesso ao texto completo, acesse a página 10 do nosso Relatório de Atividades 2016

[1] Trajber, Rachel; Nogueira, Patrícia (org.) Educação na diversidade: o que fazem as escolas que dizem que fazem educação ambiental. Brasília: Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2007.

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